Convidada
do 5º Encontro de Mulheres da UNE (EME) a secretária nacional de Avaliação de
Políticas e Autonomia Econômica das Mulheres, Tatau Godinho, da Secretaria de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM) foi entrevistada
pelo site da UNE. Na conversa a cientista social falou sobre alguns avanços, o
que tem sido feito em prol das jovens mulheres no país, sobre a recém aprovada
PEC das domésticas e sobre o futuro das políticas públicas para essa população
que já maioria no Brasil. Leia a entrevista:
QUAL SERÁ O FOCO DA SPM? QUAL É O MAIOR
DESAFIO PARA EFETIVAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES?
Esse
ano, a Presidenta Dilma lançou um programa grande de enfrentamento da violência
contra as mulheres que se chama “Mulher, viver sem violência”. E o objetivo do
programa vai ser a instalação de um centro integrado de atendimento as mulheres
nos casos de violência, começando pelas capitais. Então, a secretaria vai
colocar muita energia nesse processo de instalação dos centros, e o objetivo
dos centros é ter um espaço que coloque junto o atendimento jurídico, o
atendimento policial, no caso das delegacias, o atendimento de assistência
social, o atendimento psicológico, os serviços que possam ser necessários de
defensoria, juizado, e tem também a proposta de que os centros tenham um
serviço de orientação para o trabalho e renda das mulheres. De maneira que aquelas
mulheres que procuram serviços, que estão procurando atendimento específico em
relação à violência possam também, fortalecer as suas condições econômicas,
para sair dessa relação desse ciclo vicioso que, às vezes, dificulta com que
ela rompa uma relação de violência .
O QUE A SPM TEM DISCUTIDO A RESPEITO DA
AUTONOMIA ECONÔMICA DAS MULHERS?
A
Secretaria tem uma perspectiva de que um dos eixos fundamentais de construir a
igualdade entre mulheres e homens, é fortalecer as condições econômicas e de
renda das mulheres. Então, nós fazemos isso, tanto através de políticas que vão
buscar debater condições de igualdade no mundo do trabalho e incentivar
políticas de igualdade no mundo do trabalho, quanto mudanças em diversos
âmbitos, tanto legislativos quanto de práticas de políticas sociais para que a
gente consiga alterar a desigualdade que ainda prevalece no mercado de trabalho
em relação as mulheres. Uma coisa muito importante que a gente fez desde o ano
passado é exatamente a aprovação dos direitos das trabalhadoras domésticas. Foi
aprovada a legislação no Senado, mas é muito importante que isso seja também um
ponto de mudança do padrão de relação dentro da sociedade, porque uma parte dos
direitos, as trabalhadoras domésticas do ponto de vista legal, já tem há muito
tempo, mas eles não são aplicados. A sua concretização depende também de um
processo de convencimento da sociedade brasileira de que esses direitos são
justos, que não é correto nenhum grupo de trabalhadores terem menos direitos
que os outros. Então tem um processo de aplicação dos direitos que não é
automático. Por outro lado, o governo tem investido em algumas políticas que
são de caráter universal e que tem uma influência importante sobre as mulheres.
O aumento do salário mínimo foi um aspecto muito importante de aumento do
rendimento das mulheres, a ampliação da adesão a previdência social, para que
as mulheres possam ter todos os direitos da seguridade social. Houve mudanças
também na legislação de organização para os grupos produtivos coletivos, a
facilitação dos processos de organização produtiva, de organização tributária,
para que os grupos que trabalham de maneira autônoma possam se formalizar, e
nesse sentido, participar com melhores condições de políticas que incentivam o
seu desenvolvimento econômico, em especial do programa de aquisição de
alimentos, do programa nacional de alimentação escolar, que são duas questões
muito importantes para os grupos de produção rural, que produzem alimentos,
onde a gente tem um número muito grande de mulheres. Esses são alguns exemplos.
A SPM FOI UM AVANÇO GRANDE, E TIVEMOS
AGORA A APROVAÇÃO DO PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES. O QUE
VEM MAIS POR AI?
A
aprovação do plano é uma continuidade do processo, não apenas dos planos
anteriores, mas também, da 3ª Conferência de política pública para as mulheres.
A Secretaria tem procurado investir muito para que haja um atendimento junto
com o Ministério da Saúde para mudar a qualidade do atendimento a saúde das
mulheres e isso é um compromisso muito grande. Claro que ainda há necessidade
de melhoria grande do atendimento, mas a compreensão de que a forma da atenção
a saúde precisa ser cada vez mais uma forma humanizada, que atenda a mulher na
sua especificidade, é um aspecto importante. A Secretaria criou uma área de
trabalho sobre a diversidade com o objetivo de poder também fazer mais essa
transversalidade das políticas para mulheres negras, para as mulheres
indígenas, de maneira que essa compreensão, de que a desigualdade econômica de
gênero e de raça seja parte do cotidiano da produção das políticas. Nós temos
também, buscado trabalhar cada vez mais com o processo de organização das
mulheres e de políticas públicas que permitam que as mulheres possam ter um
rendimento ou condições de trabalho. Uma das coisas que ainda há uma
necessidade grande no Brasil, que são as políticas de cuidado, é uma
preocupação permanente da Secretaria, e o Brasil ampliou muito a sua política
de creche, mesmo que a gente saiba que a cobertura ainda é muito menor do que a
sua necessidade.
O QUE VOCÊ PODE DESTACAR DO PLANO PARA
MULHERES JOVENS?
Uma
parte importante do plano que se relaciona às mulheres jovens, e que eu acho
que é importante mencionar, é o investimento que nós temos feito na área da
educação e na área da primeira inserção no mundo do trabalho, para estimular as
mulheres em carreiras não tradicionais, estimular também, o desenvolvimento das
mulheres no campo das ciências e no campo dos estudos mais técnicos,
científicos e de ciências exatas, por considerar que há uma concentração que
responde à divisão sexual do trabalho entre meninos e meninas na sua locação,
nos estudos, nas carreiras universitárias, e isso se reflete posteriormente, na
locação no mercado de trabalho. Então, a Secretaria está buscando construir uma
política de incentivo, inclusive em conjunto com as grandes empresas das áreas
mais tecnológicas, para que elas incentivem a entrada de mulheres nessas
carreiras de maneira a reduzir esse gap, reduzir essa diferença que nós ainda
temos muito forte da locação das mulheres do ponto de vista profissional.
QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE A DIRETORIA
DE MULHERES DA UNE?
É
fundamental que a UNE tenha um processo de auto-organização das mulheres num
movimento estudantil, no período da vida universitária. É muito importante que
as mulheres estejam organizadas para garantir que todas as questões
relacionadas à sua construção como sujeito integral, a sua força na sociedade,
o enfrentamento a todas as formas de discriminação, esteja presente num
processo tão importante de formação para a vida social, para a vida profissional,
para a vida política, que é o período da universidade. O EME é bastante
estimulante porque os debates refletem toda a gama de preocupações que as
mulheres jovens universitárias do Brasil têm. Então, eu acho que a Diretoria de
Mulheres da UNE tem uma responsabilidade muito grande, que é essa
responsabilidade de estimular e organizar as mulheres no movimento estudantil e
está cumprindo bem o seu papel.
Cristiane Tada
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