A
presidenta Dilma Rousseff sancionou no dia 30 de agosto a Lei de Cotas (lei
12.711/2012), que destina 50% das vagas em universidades federais para
estudantes oriundos de escolas públicas.
A
aprovação da lei é um passo inédito e transformador rumo à democratização da
universidade, fruto de uma longa mobilização dos estudantes brasileiros e da
união de forças entre movimento estudantil, educacional e negro em defesa da
educação brasileira.
Junto
com a aplicação da Lei de Cotas, a UNE reforça a importância de trazer para o
debate outras questões relativas à democratização do acesso à universidade,
como a assistência estudantil. “Só a política de cotas não resolve. Ela precisa
vir acompanhada de um conjunto de medidas que prepara a Universidade brasileira
para se democratizar”, explicou Daniel Iliescu, presidente da UNE.
Leia
a Nota oficial da UNE em defesa da Política de Cotas
NOTA OFICIAL DA UNE EM DEFESA DA
POLÍTICA DE COTAS E POR SUA IMPLEMENTAÇÃO COM QUALIDADE E ASSISTÊNCIA
ESTUDANTIL
A
União Nacional dos Estudantes (UNE) acompanha, com interesse e otimismo, os
recentes debates sobre a universidade brasileira, defendendo irrestritamente as
políticas públicas expressas pela Lei 12.711/2012, a lei das cotas,
regulamentada pelo decreto presidencial do dia 11 de outubro. A ampliação do
acesso à universidade, de forma a referenciar igualitariamente a sociedade em
que se insere, combatendo as históricas injustiças sociais, raciais e
permitindo o real desenvolvimento humano desta nação sempre nortearam as lutas
da UNE em seus 75 anos.
A
expectativa em torno do ambiente acadêmico é a da mais ampla efervescência
criativa, que contemple uma diversidade única e característica de nosso povo.
Uma instituição pública, gratuita, com qualidade deve trazer para o seu seio o
trabalhador, o negro, o índio. É essa parcela, ainda à margem em um país
secularmente excludente do ponto de vista social e racial, que poderá concluir
o projeto de nação com o qual sonhamos, sem preconceitos e com oportunidades
para todos.
Debater
a diversidade e democracia dentro da universidade foi um dos principais
objetivos da UNE, nos últimos meses, com a Caravana UNE Brasil+10, que
percorreu 12 capitais de todas as regiões do país. A Caravana promoveu
discussões em universidades públicas e privadas sobre o Brasil que a juventude
almeja para os próximos 10 anos, quando comemora-se o bicentenário da nossa
independência oficial. É consenso, dentro do movimento estudantil, que a verdadeira
alforria do povo brasileiro passa pela transformação do ensino superior e da
educação como um todo.
Por
isso, a política de reserva de vagas nasceu dentro dos movimentos sociais,
principalmente os espaços privilegiados de debates nos movimentos de juventude,
negros, indígenas e estudantil. A matemática é simples, há um lastro de pobreza
intensa e falta de oportunidades em razão da cor, ou como cantam os Racionais
MCs em um trecho de sua clássica “Negro Drama”, “me ver, pobre, preso ou morto,
já é cultural”.
A
ação afirmativa por meio das cotas raciais, mais do que uma dívida histórica
com os grupos massacrados pela escravidão, por genocídios e preconceitos, é a
possibilidade de compor uma aquarela de saberes e conhecimentos no espaço
acadêmico, trazendo ao país uma soberania referenciada por seu próprio povo,
pela valorização de suas culturas, práticas e anseios para o futuro.
Porém,
a política de cotas no Brasil, iniciada de forma pioneira pela Universidade
Estadual do Rio de Janeiro e Universidade Estadual da Bahia, foi logo
questionada por uma elite embebida de argumentos preconceituosos, desafiando a
capacidade intelectual de um jovem negro ou índio, pobre, egresso da escola
pública.
O
excelente desempenho acadêmico dos estudantes que são beneficiados por esta
política, no entanto, só reforçou sua qualidade, desbancando opiniões racistas,
proto-fascistas e reacionárias. As cotas foram logo referendadas também por
leis estaduais e por decisões de conselhos universitários. Mesmo antes da
institucionalização dessa política, muitas universidades já haviam se atentado
à importância de desenhar um novo ambiente acadêmico.
Em
seguida, veio o reconhecimento unânime da constitucionalidade das políticas de
ações afirmativas e da legitimidade das cotas raciais, proclamado pelo Supremo
Tribunal Federal – STF, no dia 26 de abril de 2012, ao derrubar uma ação do
partido Democratas (DEM) contra a Universidade de Brasília, a primeira federal
do país a reservar 20% de suas vagas para autodeclarados negros e pardos.
“Os
principais espaços de poder político e social mantêm-se inacessíveis aos grupos
marginalizados, ensejando a reprodução e a perpetuação de uma mesma elite
dirigente”, disse o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski,
relator da ação que julgou constitucional o sistema de cotas raciais.
Para
enterrar de vez qualquer dúvida, o Senado aprovou a Lei 12.711/12 no dia 7 de
agosto e a presidenta Dilma assinou, no dia 11 de outubro, o decreto que a
regulamenta. Assim, a partir de 2013, universidades federais e institutos
federais de educação, ciência e tecnologia terão de reservar no mínimo 12,5%
das vagas ao ingresso de estudantes cotistas. Ao longo de quatro anos, esse
índice deve obrigatoriamente chegar a no mínimo 50%. Cabe lembrar e valorizar
exemplos como o da Universidade Federal da Fronteira Sul que já conta com mais
de 90% de estudantes oriundos da escola pública. Passa-se, a partir de agora, a
questionar as instituições de ensino que não adotam tais políticas como um
parâmetro de compromisso social e como um conceito contemporâneo de qualidade.
Todo
esse caminho percorrido até a vitória se deu em plena greve dos docentes e
técnicos administrativos e grande efervescência dos estudantes nas
universidades federais. A mobilização do movimento estudantil pelas cotas tem
acontecido junto à luta pela ampliação da assistência estudantil. Para além de
aumentar o acesso, é indispensável garantir a permanência, com qualidade, desse
novo contingente de alunos que chegam ao ensino superior.
No
histórico 26 de junho, a UNE levou em marcha até o ministro da Educação Aloizio
Mercadante uma pauta formulada em conjunto com mais de 50 Diretórios Centrais
dos Estudantes (DCEs) de universidade federais, reafirmada em audiência com a
presidenta Dilma Roussef em agosto passado. O documento atentava para a
urgência de elevar radicalmente o patamar de financiamento da assistência
estudantil. Hoje, o plano para esse setor (PNAES) conta com R$ 500 milhões. O
ministério já sinalizou um aumento imediato para mais de R$ 600 mi, mas a
reivindicação estudantil é de um piso de R$ 750 mi em 2013. A luta continua
para que possamos superar R$ 2 bilhões, o que significa multiplicar algumas
vezes a verba para a reforma e construção de moradias estudantis e restaurantes
universitários, além de aumentar o número e o valor das bolsas de permanência e
de mérito acadêmico.
A
política de cotas também requer um acompanhamento progressivo a cada ano,
respeitando a autonomia das universidades que podem inclusive implementar
políticas complementares. Torna-se importante uma política de propedêutica e a
criação de programas de tutoria, com aulas de nivelamento e reforço pedagógico
aos cotistas, ações inclusive já propostas pelo governo. A UNE defende a
criação do Conselho Nacional de Acompanhamento da Implementação das Cotas e a
formação de conselhos de apoio aos cotistas, no âmbito de cada IES com a
garantia de representação discente.
O
movimento estudantil, pelos percursos da história, ocupou o espaço de fiador de
todas as maiores conquistas coletivas da nossa sociedade civil. Em diversos
momentos, a UNE defendeu medidas para o fortalecimento da democracia popular
que enfrentaram a resistência dos setores conservadores e sectários.
Ao
defender irrestritamente as cotas nas universidades e a ampliação da
assistência estudantil, a UNE reforça a reforma da universidade e da educação
brasileira como sua principal bandeira neste século 21. Prova disso é a larga e
unificada campanha do movimento estudantil brasileiro em defesa dos 10% do PIB
para a educação e pela vinculação à educação de 100% dos royalties e 50% do
Fundo Social do Pré-Sal.
Pelo
seu caráter de abrangência, mobilização nacional e principalmente unificação de
todo o movimento, a campanha dos 10% conecta-se com a luta das cotas e sua
capacidade de criar a unidade na diversidade. Está sendo assim também na luta
pelo passe livre dos estudantes nos transportes, na defesa da regulamentação da
educação privada, nas batalhas diárias de cada CA, DA ou DCE desse país pela
melhoria de sua realidade local.
Orgulhosa
de fazer parte desse novo capítulo da historia brasileira, a União Nacional dos
Estudantes reitera a sua total defesa das políticas de ações afirmativas e
acredita em um processo de transformação nacional emanando de dentro das
universidades, de norte a sul, valorizando o talento e a pluralidade da
juventude e seu poder criativo, igualitário, comprometido com um país mais
justo, solidário e positivo.
Há
apenas 10 anos do bicentenário da independência oficial do Brasil, a UNE
acredita firmemente na política de cotas como mais um instrumento para
levar-nos à virada de nossa própria história. Como disse o ministro do Supremo
Tribunal Federal Ayres Britto, em voto favorável às cotas “os erros de uma
geração podem ser revistos pela geração seguinte”.
E é
isto o que está sendo feito.
Vamos
à luta.
União Nacional dos Estudantes
22 de outubro de 2012
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