Uma
importante comemoração na Praia do Flamengo 132 (Rio de Janeiro) na tarde de
sábado, 11 de agosto, marcou o aniversário de 75 anos da União Nacional dos
Estudantes e também o início das obras da nova sede da entidade, incendiada em
1964 e demolida em 1981. A partir de agora, mais do que nunca, os estudantes
estão de volta à sua casa, cristalizando um capítulo da história da democracia
do país: a reconstrução do prédio rua Flamengo 132.
O
ato foi também um momento de relembrar e honrar a história de luta pela
liberdade e a combatividade da UNE. Na entrada do terreno os convidados
encontraram um túnel do tempo onde estavam expostos retratos de lideranças
estudantis que tiveram sua trajetória marcada pela contestação ao regime
militar durante o tenebroso período. Entre eles estavam Honestino Guimarães,
ex-presidente da UNE desaparecido, e Edson Luis, jovem assassinado pelos
militares que tornou-se símbolo de uma geração.
O
aniversário também teve um caráter de retomada da memória viva da UNE, a
comemoração reuniu diversos ex-presidentes e personalidades que desempenharam
fundamental papel para a construção da entidade, entre eles um de seus
fundadores, Irum Santana. Além dele, estiveram presentes os ex-presidentes José
Frejat (1950); João Pessoa de Albuquerque (1953 -1954); Aldo Arantes
(1961-1962); José Luis Guedes (1966-1968); Jean Marc Von der Weid (1969-1971);
Javier Alfaya (1981-1982); Juliano Coberlline (1988-1989); Claudio langone
(1989-1991); Gisela Mendonça (1986-1987); Lindberg Farias (1992-1993); Ricardo
Cappelli (1997-199); Fernando Gusmão (1993-1995), Felipe Maia (2001-2003);
Lucia Stumpf (2007-2009); e Augusto Chagas (2009-2011).
Ao
lado dessas importantes figuras, no palco, estavam também membros da atual
diretoria da UNE, da UBES e da ANPG, Wagner Carvalho e Nadine Borges,
representando a Comissão da Verdade; Ângela Guimarães, presidente do CONJUVE e
Severine Macedo, da Secretaria Nacional de juventude
Num
ato simbólico, os ex-presidentes e os dirigentes atuais cavaram a terra para
simbolizar a reconstrução desse importante monumento da história do Brasil, a
nova sede da Praia do Flamengo. Mais do que um prédio, a obra representa um
símbolo da luta pela democracia.
“Esse
é um momento muito especial de todos os presentes e não presentes. O ato é
transcendental e diz respeito as muitas gerações de estudantes e brasileiros
que dedicaram suas vidas pela luta por um Brasil mais justo, democrático,
desenvolvido pelos direitos da juventude”, afirmou o presidente da UNE, Daniel
Iliescu.
Emocionados,
todos os presentes cantaram o hino da entidade. “…Nossa hino é nossa bandeira,
de pé a classe estudante, sempre na vanguarda trabalha pelo Brasil. Mensagem de
coragem é que traz um canto de esperança pro Brasil em paz. A une reúne futuro
e tradição. A une é união…”.
UNE, LUTA DE 1937 ATÉ HOJE
Em
seu discurso, Iliescu citou diversos momentos marcantes da história da entidade
ao longo de seus 75 anos e também as atuais conquistas e vitórias da entidade,
que atualmente trava uma dura e fundamental batalha no congresso nacional para
que o governo aprove por lei a destinação de maiores investimentos para a
educação, como 10% do PIB e 50% do fundo social e dos royalties do pré-sal.
Recentemente, o movimento estudantil alcançou também uma vitória fundamental rumo
à democratização da universidade com a aprovação da lei de cotas raciais e
sociais para estudantes ingressarem nas federais.
“A
juventude é irrefreável. A UNE é patrimônio da luta democrática do Brasil. O
movimento estudantil é fiador das maiores conquistas da universidade
brasileira. A UNE se colocou como castiçal, iluminando a luta por democracia. O
prédio da UNE acaba de renascer. A sina da juventude é ser construtora de seu
destino”, discursou Iliescu.
Há
75 anos, quando um grupo de estudantes, entre eles Irum Santana fundou a UNE,
os jovens se mobilizavam num intenso enfrentamento ao nazi-facismo. Em nome de
todos os estudantes brasileiros, Daniel também prestou uma homenagem especial à
Irum, que recebeu uma placa comemorativa. “O nascimento da UNE foi possível
pela perseverança e gigantismo de jovens como Irum Santana”.
Em
seguida, a entidade encabeçou a campanha do “Petróleo é nosso”, assim como
atualmente luta para que os royalties e o fundo social do pré-sal sejam
revertidos para investimentos na educação brasileira.
Outro
episódio relembrado no discurso foi o incêndio da sede da UNE, no dia 1 de
abril de 1964. Esse é, até hoje, um dos mais lembrados episódios do período da
ditadura militar. “A imagem da UNE em chamas ainda arde no peito daqueles que
aqui estiveram. O fogo e as balas buscavam matar as ideias e os sonhos de um
Brasil que os estudantes queriam”, discursou Daniel.
“Estudantes
morreram, foram torturados, mais não se renderam. Eram tempos difíceis, mas de
surgimento de heróis”, afirmou em uma homenagem a Edson Luis e a Honestino
Guimarães. “Honestino está aqui porque transformou-se em ideia continua de
liberdade para esse pais”, disse.
Assim
como a demolição do prédio da UNE, outro fundamental momento dos anos 80 e 90,
o “Fora Collor”, mais uma luta dos estudantes brasileiros que marcou a história
do país, também foi lembrado. “Somos todos jovens ainda de caras pintadas,
todos entram em ação quando os interesses do povo estão em jogo. A campanha
pelos 10% conecta-se com a geração dos caras pintadas em sua capacidade de
criar unidade na sua diversidade”, afirmou Iliescu.
Aproximando-se
dos dias de hoje, a retomada do terreno da Praia do Flamengo 132, em 2007,
durante a gestão de Gustavo Petta, também foi lembrada: “A nossa homenagem do
dia é também àqueles estudantes que acamparam aqui por 4 meses para garantir a
vitoria política e jurídica”.
A
festa de sábado, 11 de agosto de 2012, não se tratou apenas de um gesto de
levantar paredes, mas sim de levantar os gritos de vitória daqueles que ali
sonharam.” Não é uma simples reparação, trata-se de evocar o poder da juventude
para que nunca mais duvidem dele. A UNE hoje é uma garantia de que estamos
vivos na luta por um novo Brasil. Nós vencemos e temos um longo caminho pela
frente”, finalizou Daniel.
Sob
uma longa e emocionada salva de palmas a todos que tombaram em nome da
liberdade do país, a solenidade de comemoração dos 75 anos e do início das
obras terminou por volta das 19h, dando lugar à uma animada roda de samba e
muita festa.
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