O
movimento estudantil brasileiro iniciou, na noite dessa sexta-feira (15/06), um
dos seus principais encontros, o Conselho Nacional de Entidades Gerais da UNE
(Coneg), que reúne centenas de representantes de DCEs, executivas de cursos e uniões estaduais dos
estudantes. A abertura do evento, que segue até domingo, foi marcada pela
discussão de temas que alertam o movimento estudantil no momento, como a prisãode alunos universitários em São Paulo, os ataques de parte da imprensa à UNE e
o desdobramento dos debates sobre a ditadura militar no Brasil.
A
grande apreensão dos jovens, que chegaram desde o início do dia ao campus
Fundão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) era saber o que se
passava com os 26 alunos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus
de Guarulhos, que foram agredidos e detidos pela Polícia Militar do estado,
após se mobilizarem pacificamente por melhorias na instituição.
Durante
a abertura do Coneg, o presidente da UNE, Daniel Iliescu, informou o que todos
esperavam: “Acabo de receber um telefonema da nossa assessoria jurídica,
informando a soltura dos estudantes, precisamos agora continuar mobilizados
para impedir a perseguição judicial de todos”. O presidente da UNE fez questão
de agradecer a algumas pessoas diretamente envolvidas na liberação dos jovens, entre
elas os parlamentares Manuela D’ávila (PCdoB) e Jean Wilis (PSOL), além do
secretário nacional de Justiça Paulo Abrão, que participou pessoalmente da
abertura do Coneg.
Autoritarismo no Brasil hoje
Em
sua fala, Abrão relacionou o episódio da prisão dos estudantes com outros
eventos de teor autoritário no país, como a proibição de marchas pela
reivindicação de direitos, perseguição e violência contra mulheres e
homosexuais. Segundo o secretário, os traços de autoritarismo no Brasil derivam
de um processo incompleto de recuperação de memória e da verdade, que está em
debate no momento com a lei de acesso a documentos públicos e a criação da
Comissão da Verdade, que versa sobre a ditadura militar.
“O
que está em disputa é uma mudança cultural. Temos historicamente uma cultura de
esquecer, apagar as ações e violência do estado brasileiro. O estado não lida
com seus erros”, afirmou, citando acontecimentos como a escravidão, a dizimação
das populações indígenas e as atrocidades da guerra do Paraguai. Abrão acredita
que, com a Comissão da Verdade, abre-se a possibilidade de romper com essa
cultura do esquecimento. “Verdade e justiça são faces da mesma moeda. Já
tivemos parte do processo de reparação, com a lei da anistia, agora podemos
avançar no campo da verdade e, posteriormente, na aplicação da justiça”,
explicou.
As
reverberações negativas da ditadura militiar no Brasil de hoje também foram
lembradas pela representante do movimento Levante Popular Lira Alli, grupo
responsável pelos “escrachos” a torturadores do regime que estão em liberdade.
“Achamos que é papel da juventude se levantar, reescrever a história pelo ponto
de vista do povo. Somente a luta pela verdade e pela justiça permite que a
repressao não prossiga. Atualmente a Polícia Militar mata e tortura mais do que na ditadura, principalmente a
juventude, negra e pobre. A nossa juventude não pode pagar o preço de uma
história mal esclarecida”, disse ela.
Lira
ainda convidou, oficialmente, a UNE e todos os participantes do Coneg para um
grande “escracho” coletivo dos torturadores e apoiadores da ditadura no dia 19,
no Rio de Janeiro, a partir das 9h na praça da Unirio.
Resistência da UNE aos ataques da mídia
A
abertura do Coneg também foi marcada pela postura de resistência da UNE aos
recentes ataques orquestrados por parte da chamada grande imprensa brasileira.
O presidente da entidade Daniel Iliescu relembrou que esses mesmos veículos de
comunicação, que tentam enfraquecer o movimento estudantil, estavam, na época
da ditadura, apoiando e elogiando as ações dos militares.
O
secretário nacional de Justiça também fez questão de defender a UNE das
incursões desses órgãos de imprensa. Referindo-se à matéria do jornal O Globo
que lança suspeita sobre o processo de idenização da UNE pelo incendio da sua sede
na Praia do Flamengo 132, Paulo Abrão ressaltou a parcialidade do veículo na
cobertura. “O repórter me telefonou perguntando o que eu achava dos recursos
que foram doados à UNE. Eu imediatamente corrigi a sua fala dizendo que o
estado não estava doando nada, simplesmente devolvendo o que era dos estudantes
e foi retirado pela ditadura. Isso não foi publicado”, criticou.
O
presidente da UNE disse que o movimento estudantil está pronto para manter-se
firme frente a esse tipo de golpe. “Não vamos nos intimidar”, prometeu.
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