O
microfone amplifica o chamado: “Avante! A nossa marcha começou! Coragem à
vanguarda juvenil!”. Dessa vez as palavras de ordem convocam para uma marcha
bastante especial e diferente daquelas que costumam parar as ruas do Brasil
reivindicando melhores condições de vida para o povo brasileiro: é carnaval e a
Imperatriz Dona Leopoldina chama a comunidade para cair no samba e brilhar na
avenida.
A
semelhança com a força das palavras de ordem do movimento estudantil não é um
acaso: esse ano a Imperatriz Dona Leopoldina desfilará os 75 anos de história
da União Nacional de Estudantes (UNE). A escola, que já foi campeã em 2010 com
um samba-enredo homenageando a cantora Beth Carvalho, com seus dois mil
integrantes, divididos em 16 alas, abrirá, às 23:45 da sexta-feira (17), o
carnaval 2012 de Porto Alegre.
“A
une tem uma história muito rica e muito forte que envolve a todos. Quando
começa o samba tem gente que volta no tempo”, contou o presidente da escola,
Maurício Nunes, grande responsável pela escolha e sugestão do tema. Maurício
teve sua história de vida marcada pela militância estudantil. “Comecei no
movimento secundarista e depois fui militar diretamente no partido”, relembrou.
Quatro carros e 16 alas Resgatam a
História da UNE
A
escola preparou uma deliciosa viagem no tempo passando por toda a história da
UNE, e, consequentemente, do Brasil. O desfile começa na década de 40, com a
luta dos estudantes defendendo a ruptura
do Brasil com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), numa mensagem de
paz à “À Mocidade do Brasil e das Américas”.
O
desfile contará com quatro carros alegóricos. Destaque para o abre-alas, que
trará uma imensa representação de Carmen Miranda, em analogia à brasilidade,
irreverência e alegria do movimento estudantil no país, e criando um recorte da
década de 40, quando a campanha dos estudantes pela paz foi realizada.
Em
seguida, a bateria da escola, o coração do samba, fantasiada de “Ouro Negro”,
representará a campanha o “Petróleo é nosso”, grande bandeira de luta da
entidade lançada em 1947, durante o X Congresso, quando o estudante Roberto
Gusmão foi eleito presidente. “No final do desfile a bateria volta para a
avenida e nós estaremos representando, também, a luta dos estudantes para a
destinação de 50% do Fundo Social do Pré-sal para a educação”, explicou
Maurício. Hoje, a maior luta do movimento estudantil brasileiro é por mais
recursos, principalmente os provenientes das riquezas naturais do país, para a
educação.
A
cultura brasileira terá grande destaque na avenida. O compositor e intérprete
Vinícius de Morais, autor da letra do histórico hino da entidade, será lembrado
pelo desfile no segundo carro alegórico. O tropicalismo, movimento musical que
teve seus artistas perseguidos pela ditadura, e a bossa nova serão tema de alas
subseqüentes ao carro. O CPC (Centro Popular de Cultura) também figurará entre
as plumas e paetês.
Ditadura e Volta a Legalidade ganham forma na Avenida
Nem
tudo na história da UNE é alegria e irreverência. “Acredito que o terceiro
carro vai gerar um grande impacto. É o carro da tirania, da ditadura.
Preparamos um imenso tanque militar com um general cheio de tentáculos”,
detalhou o presidente da escola. Nesse mesmo carro haverá uma representação
cenográfica do prédio da UNE em chamas para relembrar o incêndio encomendado em
1964 na sede das entidades, na Praia do Flamengo 132, e posteriormente a
demolição do que havia sobrado do prédio, em 1980.
Esse
difícil capítulo da UNE está sendo reescrito. No dia 12 de agosto de 2008, o
então presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um projeto de lei (PL), no
Rio de Janeiro, que reconheceu a responsabilidade do Estado no incêndio e
demolição da sede da UNE e da UBES (União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas). A entidade recebeu uma indenização para reconstrução do prédio
e também um novo projeto arquitetônico assinado Oscar Niemeyer.
O
período da ilegalidade da UNE, que começou em 1964 com a Lei Suplicy de
Lacerda, e a volta à legalidade, em 1985, são momentos importantes do desfile.
Haverá uma ala representando a Passeata do Cem Mil, em 1968, quando centenas de
estudantes, artistas e intelectuais foram às ruas no Rio de Janeiro para
protestar contra a Ditadura Militar, e também uma para a heróica campanha das
Diretas Já.
O
destaque desse trecho do desfile ficará para o casal do mestre sala e porta
bandeira. Para além da importância desse momento para a história do Brasil e do
movimento estudantil, a apresentação promete emocionar. Alguns dias antes do
desfile, um violento acidente de carro abalou o coração da escola: Dona Nena,
vice-presidente do conselho da escola e avó da porta-bandeira, faleceu e deixou
o mestre-sala, Jean Passos, hospitalizado.
“Mesmo
com essa dor imensa, a Nathalie, nossa porta-bandeira, resolveu desfilar. Vamos
fazer uma grande homenagem, também ao Jean à Dona Nena. Isso é mais uma
demonstração da unidade e do comprometimento da escola com o enredo. A
superação dela está servindo como combustível para fazer com que a gente
enfrente esse momento e consiga fazer a escola vir com muita força na avenida”,
afirmou Maurício.
O
desfile será fechado pelo último carro alegórico, representando os estudantes
brasileiros, com a participação de membros da diretoria executiva da UNE. A ala
final trará a velha guarda da escola chamando a atenção para a da UNE de
destinação de 10% do PIB e 50% do Fundo Social do Pré-sal para educação.
Imperatriz Dona Leopoldina entra pra
Ganhar
Na
contagem regressiva para esse grande momento, direto da quadra da escola, onde
acontecia o último ensaio antes do desfile, Maurício, emocionado, deixou os
preparativos de lado por alguns minutos e conversou com o site da UNE. “Estou louco para pisar nessa avenida. A
escola vai passar com muita maturidade, com o regulamento embaixo do braço.
Vamos conseguir fazer desse momento um momento de emoção. Vamos conseguir
representar tudo. Uma relação com aquilo que é do povo. Isso é uma marca do
povo brasileiro. Vamos buscar nota por nota uma condição de ganhar o carnaval”,
finalizou.
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